Causas da crise

Causas e efeitos da crise e... as alternativas!

(Artigo lançado em 2011, em atualização)


Em Portugal, tal como por todo o mundo, no simultâneo de 15.Outubro.2010, o movimento occupy, também conhecido por anonymous, foi para a rua. Contra a "troika" da UE-BCE-FMI, que na prática governa Portugal,  realizaram-se múltiplas manifestações. Só em Lisboa, teriam sido à volta de 50.000 pessoas. Grandes manifestações que se repetiriam mais tarde em 15.Set.2012 e em 2.Março.2013, entre outras, com números muito maiores na ordem do milhão nas ruas contra os governos "PaF") 

A CULPA NÃO É DA MAIORIA DA POPULAÇÃO

Mas a maioria dos portugueses manteve-se passiva. Apesar do esbulho das pensões de quem pagou os "descontos" exigidos em toda a sua vida profissional e vê agora sonegado o seu próprio dinheiro entregue ao longo de décadas à guarda do Estado e das Caixas, que era suposto restituir-lho na idade de reforma, um roubo! E é só um exemplo...

Os sucessivos governos desbarataram fortunas em infraestruturas supérfluas. Os bancos fizeram trafulhices
. Chefias de grandes empresas, deputados, consultores, ganham muito acima das possibilidades do País. regiões autónomas e municípios esbanjaram. Compraram-se submarinos alemães quando não havia dinheiro para lanchas. Os fundos de pensões foram usados para alimentar regabofes ou aplicados especulativamente. PPP's, SWAP's, resgate de bancos falidos, que culpa tem a população disso tudo?

MAS AFINAL, O QUE CAUSOU A CRISE?
É muito importante, essencial,  perceber algo que é desvirtuado pelos media corporativos. Inclusive, muitos cidadãos são levados ao engano, reenviando mails e posts com conteúdos enganosos.

Trata-se do grave erro de culpar pela crise fundamentalmente os agentes internos de cada país, apontando sobretudo a corrupção (que não pode ser justificação, pois o dinheiro é desviado dumas mãos para outras, circulando à mesma na economia - salvo o que vai para offshores, mas essa fuga sempre existiu... De resto países como a China, a Índia, a Rússia ou o Brasil têm muito mais corrupção mas têm mantido o crescimento a bom ritmo, modo geral).
 

Portanto essas teses penas escamoteiam as culpas da UE, do BCE e do FMI. Uma estratégia ilusionista que convém à máfia globalista e aos seus sicários internos.

É que independentemente das incompetências e fraudes ocorridas em cada país, as políticas calculistas e frias seguidas pela CEE/UE, e pelos compinchas Merkel e Sarkozy foram de facto as principais responsáveis pelas crises portuguesa e europeia, ao protelarem decisões, deixando agravar a crise dos juros, e ao caucionarem remédios do FMI que, em vez de curar, matam o doente.

Mas teríamos que recuar mais atrás, à destruição do tecido produtivo nacional, porque é aí que tudo começa. 
 

A absurda política agrícola da CEE, a PAC, liquidou a agricultura tradicional e desertificou o interior. Nas pescasPortugal era autosuficiente, mas a adesão à CEE reduziu as capturas para menos de metade. O desarmamento aduaneiro e o euro forte, finalmente, provocaram a desindustrialização maciça. São dados inegáveis para quem conhece os números e a realidade.

Aliás, os países do norte/centro europeu como Alemanha, Holanda, Luxemburgo,  Reino Unido, França, Suiça. beneficiam de serem pólos de atração, e a integração exponenciou o fenómeno. 

A generalidade das plataformas logísticas e financeiras europeias em rede (desde bancos a portos, desde aeroportos a nós de comunicação, desde entrepostos a assembladoras de máquinas), tudo foi concentrado nesses países, que  importam de todo o mundo para reexportar para a periferia europeia com gigantescos lucros.

É uma lógica em rede, que atua quer espacialmente por proximidade, quer pela concentração de massa crítica. 

Mas fixemo-nos no momento atual. Instituído o Euro, os países aderentes perderam a soberania monetária, logo, deixaram de ter instrumentos monetários para auto-defesa. Não podem emitir livremente moeda, alterar a taxa de juro, muito menos o câmbio.  Por isso a obrigação de socorrê-los numa emergência como a especulação é tão só do banco emissor, BCE, e da UE. Não se trata dum favor, é uma obrigação, faz parte dos tratados. 

PORTUGAL  PERDEU MUITO 
MAIS DO QUE GANHOU

A não intervenção atempada para barrar os especuladores em 2010/2011 por parte do BCE, o Euro fortíssimo  que beneficiou a Alemanha, mas aos países do 
Sul fez perder oportunidades de exportação e aumentar as importações, além de  afastar investidores - essas as principais causas da crise, como reconhecem até
economistas conservadores como Vitor Bento. Estas e outras políticas da UE provocaram a perda de centenas de milhares de milhões de dólares.

Pode-se estimar, assim, que mais de metade da dívida portuguesa seja culpa direta da UE.
Como a dívida total é de cerca de 200.000 milhões, isso significa que Portugal foi prejudicado em mais de 100.000 milhões de euros, só no endividamento, fora os efeitos na balança comercial e na perda de investimento externo.


Aponta-se em € 80.000 milhões de ajudas recebidas por Portugal  desde a adesão até 2011 - conferir AQUI.

Pelo cálculo anterior vê-se quem ficou a ganhar: naturalmente os "bonzinhos" dos países do norte como a Alemanha que, ao "ajudarem" os países do sul, mais não fizeram que criar uma ilusão de progresso que hoje estes pagam com juros,  importando muito do que antes produziam internamente e dificultando uma maior expansão das exportações.



O QUE MOVIA MERKEL E SARKOZY?

Difícil de compreender a teimosia  de Angela Merkel e N. Sarkozy. Fica-se com a sensação não apenas da existência dum egoísmo nacional, mas duma agenda secreta, um projeto de diretório franco-alemão com perda de direitos dos restantes.

Aparentemente pretendem levar a "barra" ao limite, à beira do que foi designado ainda ontem pela DW-TV alemã internacional, referindo-se à nova fase da crise europeia, de "eurocalipse", de modo a criar o caos financeiro e social, colocando os Governos perante factos consumados a que não mais seja possível resistir.


AS SOLUÇÕES EXISTEM NO SEIO DA EUROPA
 
E, ao contrário do que nos fazem crer, a solução é simples: bastaria um novo "plano Marshall" europeu (associado eventualmente aos G20, países ricos + emergentes) de investimento maciço nos países endividados, restruturar-lhes a dívida, aumentando prazos de amortização e fixando os juros abaixo de 1,5%. E todos teriam a ganhar com esse plano, evitando a recessão mundial.

Se foi possível no pós-2ª Guerra Mundial com a Europa completamente devastada, porque não o seria agora, numa situação que nem de longe é tão grave? 

A par disso a UE teria que impôr barreiras aduaneiras mais fortes e renogociar os termos do comércio mundial com a China e os outros "emergentes" que estão a asfixiar a Economia europeia com os seus produtos de baixo preço e de má qualidade, baseados no dumping social e ambiental. Essas são as questões de fundo. Mas o absurdo egoísmo nacional da Alemanha, da França e doutros países ditos ricos, tem paralisado a ação necessária.


A CAMINHO DO BECO SEM SAÍDA

O que se tem visto é pura e simplesmente o desinteresse do BCE e do FMI em resolver a sério a crise das dívidas soberanas.

Já fiz as contas e sei que Portugal, tal como outros países da zona Euro, não tem possibilidades de pagar juros a 5 ou 6%, e ao mesmo tempo amortizar a dívida nacional de curto/médio prazo que, somada à de longo (mas não muito longo, 5 a 10 anos) supera os 100% do PIB. A não ser que o país cresça ao ano mais que os 6% dos juros - e é justamente o contrário que está a acontecer - com todos estes encargos da dívida não é possível poupar, logo, não há investimento, logo, não há crescimento.

É um ciclo vicioso. É como uma empresa que tem mais despesas que receitas. Se ninguém injeta nela dinheiro fresco para dar um salto em frente e ganhar novos clientes, vai ter que ir "comendo" os seus próprios ativos, despedir empregados, vender equipamentos, etc. Essa empresa está condenada à morte.

Por esta via, a única solução é sacar mais e mais dinheiro aos portugueses, tirando-o da Saúde, da Educação, dos consumos essenciais e das pensões. E vender as empresas do Estado - como o atual governo anti-nacional pretende fazer às ordens da troika - esse é o caminho para a perda total da independência nacional. É que empresas como CGD, TAP, EDP, REN, GALP, Águas, são dos raros instrumentos que restam para a intervenção do Estado na Economia global.


EMPOBRECIMENTO E PERDA DA INDEPENDÊNCIA NACIONAL

Resultado final: empobrecimento maciço das famílias e perda da independência do Estado e das empresas portuguesas, cada vez mais submetidas aos grandes conglomerados mundiais.

E o mais espantoso é que esse trágico caminho não leva ao reequilíbrio das contas nacionais. Como se vê nos cálculos acima.

Mas soluções, existem. O caminho seguido, esse, é que é desastroso. CEE e FMI sabem-no melhor que ninguém. Afinal, eles têm os especialistas artilhados com todos os números... não é possível que não saibam o mal que estão a fazer !

                                                 - FIM -





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NOTA: Sobre as manifestações, molde a sua própria opinião vendo vídeo-reportagens e fotos da manifestação lisboeta de 15.10.2011 nos links:
Outras notícias da manifestação - in Indymedia

Jornal Galiza Contrainfo


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