03/01/2015

TAP: DESMONTANDO O MARKETING DA PRIVATARIA


Uma propaganda agressiva dos marketeiros da destruição de todo um património de gerações campeia pelos media do sistema e pelas redes sociais, inclusive em grupos de onde há pouco tempo seria banida sumariamente.

Os partidos e ativistas que deviam desmontá-la não o fazem, seja por ausência dum trabalho de preparação devidamente orientado, seja por colaboracionismo de alguns partidos com a privataria selvagem em curso.

A TAP é o foco de momento.


    Eis a minha resposta em seis pontos.

    1. Esta vai ser uma privatização criteriosa

    Privatização criteriosa? 
    É bom recordar algumas siglas: ANA, PT, BES, Cimpor, BPN... e a quantidade de propaganda que precedeu a  sua entrega – "dinamismo, modernização, benefícios concorrenciais".
    Começam já a observar-se as consequências graves da privatagem sobre elas. 
    E a procissão vai no adro.
    Esperem até “eles” terem a faca e o queijo na mão, politicamente.

    É que à beira de eleições e com os novos donos do País ainda em fase de consolidação, convém disfarçar. O pior vem depois...
    Mas já vão abrindo um pouco o jogo. Se não, vejamos:

      ANA – Concessinada por 50 anos à construtora francesa Vincis, já detentora da Lusoponte, tem subido continuamente as taxas cobradas ao público.
      Com esta privatização, fica criado um monopólio nas infraestruturas estratégicas em torno de Lisboa, sem alternativas para o consumidor.
      Os riscos de abuso e de negócios parasitários no futuro são elevadissimos, como se vê no Acordo de Concessão, Cap. II (Objeto), ponto 5.2.: 
      O direito exclusivo pela Concessionária de apresentar ao ...[Estado] uma proposta de conceção [sic], construção, financiamento e/ou exploração e gestão do Novo Aeroporto de Lisboa”

      Conferir AQUI.

      PT – Fez investimentos gigantescos no Brasil e detinha 50% da Vivo (a mais moderna operadora brasileira), mas após a propaganda maciça pelos ideólogos da privataria de que a fusão com a Oi seria um 'excelente negócio', a PT é tomada pela Oi.
      Súbitamente, a endividada operadora Oi decide desfazer-se da PT – em condições de preço muito desfavorável e sem nenhuma garantia de salvaguarda do interesse português na empresa, que é a maior tecnológica portuguesa .   

      Conferir AQUI .


      CIMPOR – Maior grupo cimenteiro português, vendido à construtora Camargo Corrêa e à cimenteira Votorontim, que tomam firme o seu capital em 2012 para de imediato o desmembrarem entre esses dois gigantes brasileiros. Perde-se assim qualquer lógica nacional num grupo presente nos quatro continentes e que estava em franca expansão.

      Conferir AQUI.

      GES – Detinha um património próprio com peso relevante no PIB português, na Banca (BES, BESA, ES Suiça, Brasil, ES Investimentos, etc.), nas Telecomunicações (PT), nos Seguros (Tranquilidade), na Saúde, no Turismo, no Imobiliário (amplo portfólio em Portugal e Brasil), no agronegócio (total de 200.000 hectares no Brasil, Paraguai, Moçambique e Portugal), na energia (petróleo e produção no Brasil e Paraguai).
      Após ser proibido pelo BCE de contrair novos empréstimos - uma sentença de morte para qualquer banco - o Banco de Portugal (mera filial do BCE, hoje) e o 'governo' cumprem à risca as ordens do BCE e liquidam sumariamente o grupo, colocando os ativos não-tóxicos num Novo Banco, com vista a entregar tudo e de forma rápida em mãos estrangeiras, o que parece aliás dar a esta gente um enorme gozo.

      Conferir AQUI
2. Os outros países europeus não têm companhias aéreas de bandeira

Falso! Como se verá a seguir.
Além disso, a Alemanha, o RU, a França ou a Holanda são centros capitalistas mundiais, possuem grupos multinacionais sólidos que fazem questão em manter a nacionalidade de referência, portanto nem se põe a questão de perda dos centros de decisão nacionais.
Air France-KLM, Lufthansa ou British Airways (algumas já eram privadas, mas sempre foram e continuam a ser de bandeira) - serem privadas ou não, é irrelevante para a sua identidade e centros de decisão e de produção.
Ao contrário da TAP, inserida num país debilitado e empurrado pelos privatas no poder para níveis cada vez mais próximos do 3º Mundo.

A Air France, após fusão paritária com a KLM, mantém o Francês como língua de trabalho obrigatória – está no regulamento da 'governance' - e o Estado francês mantém o seu poder de decisão - também regulamentado.


Só gente desonesta e manipuladora faz comparações fora do contexto e que omitem detalhes fundamentais.

3. "O Estado é um mau gestor e um acionista inadequado para este tipo de negócio

Mas na Scandinavian Airlines-SAS os três Estados nacionais - sueco, norueguês e dinamarquês - detêm mais de 50% do capital...!
Será então a SAS mal gerida? Ou os governos escandinavos são burros, e Passos Coelho e Pires de Lima os espertos?

Nota-se... - até no estado comatoso em que colocaram o país.

4.Numa TAP sob tutela do Estado haverá sempre suspeitas de corrupção [casos VEM-Brasil,  Portugália, etc.].
Além disso há pressões abusivas de pilotos e outros pessoal, que chantageiam o Estado”.

Então agora o argumento passa a ser: com a privataria acaba automaticamente a corrupção e os sindicatos ou pilotos são logo metidos na ordem.

Mas quem garante que um privado poderoso não corrompa um futuro governo fazendo negociatas, aliás previsíveis pelo acordo (citação no início) com a Vincis-ANA?

Quanto a “meter na ordem”, sabemos que o sonho da privataria selvagem é substituir trabalhadores por robôs e por uma mão-de-obra submissa e sem direitos.
Há quem chame a isso de fascismo.

Pessoalmente, prefiro um Estado justo e com força para negociar firme, pondo na ordem os privilegiados, sim, mas pelo confronto com as suas responsabilidades face ao país, não pelo medo.
Basta um governo competente e patriótico.
Governos incompetentes e anti-nacionais não são uma fatalidade.

É uma questão de dar ao povo opções credíveis e de o esclarecer.


5.O turismo e a TAP: apenas Lisboa é beneficiada. Faro, Porto, Açores, Madeira, Alentejo, etc. não têm beneficiado de ajuda relevante da TAP

Um argumento ignorante para convencer ignorantes.
A TAP tem que ser avaliada pela cadeia de valor que cria. Não isolando este ou aquele elemento.
A TAP, pelo simples facto de ter sede em Lisboa, criou um hub internacional com muitos milhares de postos de trabalho directos e mantém a cidade e o país no centro das rotas América-Europa-África e Oriente.

É por ser a base duma grande companhia aérea que o aeroporto de Lisboa é altamente lucrativo, o que lhe permite sustentar aeroportos deficitários como Porto, Faro, Ponta Delgada, Funchal e restantes.

Se não for a TAP e o Hub de Lisboa, quem paga a operação dos outros aeroportos? A Ryan Air?
Mas as 'low coast' alguma vez deram alguma coisa a alguém?
Só se for... acidentes, fruto da precaridade em que se baseia a sua operação. Como ainda agora se constatou na Air Asia...

6.O hub de Lisboa não tem valor estratégico. Apesar da TAP dispor de excelentes ligações intercontinentais, não é uma prioridade nacional possuir uma plataforma entre o Brasil e a Europa. Este hub vai exigir investimentos pesados num novo aeroporto, mais despesa para o Estado
Helas ! A ver se nos entendemos...
Primeiro, a privataria reconhece que a TAP tem excelentes ligações.
Depois, no acordo ANA/Vinci está definido que um eventual novo aeroporto em Lisboa, será por conta da concessionária.
E no fim, dizem que a plataforma de Lisboa não é importante, enquanto tentam assustar com as despesas do Estado?

Bem... entendam-se! E vejam se dizem coisa com coisa...

De resto, a TAP vem registando lucros operacionais consecutivos (2013: € 44,1 milhões) e há 17 anos que o Estado não mete lá um centavo.
Ao contrário do que os privatas apregoam, a TAP não apresenta grandes riscos financeiros.

Segundo o pŕoprio Relatório e Contas de 2013, as vendas anuais do grupo foram de € 2.722,9 milhões, o ativo é de € 1.695,1 milhões, a dívida líquida de 780 milhões, da qual apenas 373,3 são capitais próprios negativos.

Se a isso associarmos um setor de manutenção e engenharia dos melhores do mundo, uma imagem de segurança e qualidade também entre as melhores, rotas e passageiros em acentuado crescimento, e um hub gerido pela Vincis que está a usá-lo como base para se expandir nessa área de negócios – a TAP constitui uma excelente oportunidade para qualquer investidor.

Não seria difícil a colocação em bolsa de 25 a 30% do capital, permitindo um encaixe mínimo de € 700 a 1.000 milhões, assegurando o auto-financiamento e a renovação da frota da TAP.
Sem perda da maioria clara do Estado.
Boa parte desse capital poderia ser voluntariamente subscrito pelos trabalhadores da TAP e pelo público português, bastando um bom pacto social devidamente negociado.

A TAP é um dos maiores exportadores nacionais, fazendo entrar todos os meses divisas preciosas ao equilíbrio da balança externa.
Emprega diretamente quase 13.000 trabalhadores, na sua maioria qualificados e bem remunerados – o que, em vez de ser considerado um mal, devia ser visto como estímulo à subida do nível de vida geral, até pelo rendimento que injeta na economia nacional.

A TAP possui dezenas de fornecedores que geram centenas de postos de trabalho indiretos.
Muitas escolas superiores e técnicas formaram o seu pessoal especializado, bem como o do hub de Lisboa e dos restantes aeroportos articulados a ele.
O seu know how é também importante para a embrionária mas relevante indústria aeroespacial.

O fundador general Humberto Delgado e os pioneiros da aviação Gago Coutinho e Sacadura Cabral – 1º voo sobre o Atlântico sul – estarão a dar voltas à tumba face a tanta barbaridade contra a aerotransportadora.

Basta de chantagem e mentiras num assunto que merece amplo consenso de todos os que se respeitam, porque respeitam o País !





6 comentários:

  1. No dia 31 de Janeiro, às 15.00, no Aeroporto de Lisboa.

    Concentração contra a Privatização da TAP!!!!

    Vamos todos opor-nos a esta negociata!

    https://www.facebook.com/events/316940438501047/?ref=3&ref_newsfeed_story_type=regular

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  2. Pena não conhecer ter conhecido há mais tempo.
    Aprendi muito, quero saber mais.
    Faz falta conhecer toda a verdade. Obrigada

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  3. Muito bem escrito e esclarecedor!
    É preciso estas narrativas alternativas para que não nos inundem com propaganda neoliberal!

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