29/11/2013

CTT: a luta pelos correios - que lições?

NOTA: Esta luta ocorreu no período do governo de direita PSD/CDS (Passos/Portas). Mas a maior parte da análise mantém-se atual.

Os trabalhadores dos CTT estão em luta.

Infelizmente, o facto da liderança ser das cúpulas bolorentas da CGTP e da UGT promete apenas mais um simulacro de luta para trabalhador ingénuo ver.

Nada foi preparado para um combate duro e prolongado. Que poderia nem passar por greves, mas passaria sempre por um minucioso estudo de estratégias diversificadas e imaginativas, em espiral crescente, com alternativas preparadas para cada vez que uma ação fosse anulada.

Podiam, por exemplo, oferecer serviços gratuitos aos clientes, com o uso ou não das estruturas da empresa para o efeito (dependendo da adesão da classe). Ou, sendo mais criativos, mandar imprimir um grande selo simbolizando a destruição do País a par da dos correios, e vendê-lo para angariar um fundo de resistência, ou simplesmente oferecê-lo.

NOTA: Na Carris, antes de 1974, numa situação em contexto social diferente mas não mais grave que o atual os trabalhadores deixaram os passageiros viajar de graça, numa ostensiva desobediência civil.

Mas, agora mesmo, os sindicatos dos transportes da CGTP, ao invés, insistem em greves que parecem desenhadas para irritar o público.
E repetem, repetem, repetem mais do mesmo... há décadas, numa persistência cega no erro que é difícil alguém entender.
ém 

O que assistimos ontem no centro operacional de Cabo Ruivo - piquetes de greve atacados pela polícia de choque e direções sindicais mostrando para as TVs uma indignação impotente do tipo "agarrem-me, senão vou-me a ele" - foi mais uma amostra de sindicalismo cobarde que temos.
Cobardia igual à da esquerda parlamentar, representada por deputados do PCP e do BE que mais não fizeram no local que prometer "prosseguir com o protesto na AR".

É  como ser agredido pelo empregado duma instituição e o agredido ir apresentar queixa a outro empregado do mesmissimo patrão que mandou agredi-lo.

E por favor, não nos façam de estúpidos dizendo que esta AR de maioria de direita é um órgão democrático e representativo. Há muitos meses que ela age como um mero bando ao serviço da destruição do país e não representa a grande maioria dos portugueses.

O que esta esquerda impotente faz é avalizar os atuais titulares dos órgãos de soberania PR, AR e Governo. Ao "protestar" em diálogo com eles confere-lhes uma credibilidade que já haviam perdido.

É o desnorte duma oposição palavrosa.
Esse combate, perante um governo que destrói o País aceleradamente, não é apenas uma opção, é a única saída.

PORQUE É GRAVE PERDER OS CORREIOS PÚBLICOS?

É a privatização duma empresa que faculta dezenas - centenas, se fosse bem gerida - de milhões de euros de lucros ao Estado cada ano. Que, ao ser vendida, fornecerá munições acrescidas aos neoliberais para continuarem a reclamar do "grande prejuízo" do setor empresarial do Estado. Pudera... se só deixam ao Estado as áreas de elevados custos sociais !

Além disso a segurança da nossa correspondência fica em risco, já não falando na importância estratégica dos correios para um país. Nos EUA, onde quase tudo é privado, nunca nenhum governo  privatizou os correios, vistos como símbolo nacional americano.  Mas para este desGoverno e alguns atrofiados, parece até ser bom que os símbolos nacionais desapareçam.

CTT:  CONTROLADOS PELO ESTRANGEIRO ?

O desGoverno mantém em segredo o seu verdadeiro plano, lançando a cortina de fumo da "dispersão do capital em bolsa". Já vimos o mesmo filme com a PT, a Cimpor, a GALP. Sabemos no que deu.

E não se venha com o argumento dos "países-irmãos", como Seguro do PS patéticamente invocava. Além de os países alvo não retribuirem sequer esse tratamento no discurso, Portugal quase não é falado nos seus media e quando é, é-o depreciativamente (sei do que falo). De resto, em matéria de negócios, cada país tem os seus próprios interesses.

Veja-se o caso da CIMPOR, a grande multinacional lusa dos cimentos, presente nos quatro cantos do mundo. Comprada por dois grupos gigantes brasileiros, foi de imediato desmembrada e o seu centro de decisão retirado de Portugal (link).

Com o negócio PT-Oi, corre-se risco idêntico: fundiram-se os respectivos capitais e a lógica será o crescimento exponencial da Oi face à PT,  levando o centro de decisão do grupo para o Brasil, para onde aliás já foi morar o CEO do grupo.

Outro caso é a GALP: é natural que, continuando a crescer a quota da Sonangol angolana a par do seu peso internacional (link), se corra o risco, a prazo, da retirada do centro de decisão de Portugal.

NOTA: Ver aqui a estrutura acionista da GALP Energia, sendo de notar que, embora a S.A. Amorim Energia detenha 38,3% do capital, 45% desta Amorim Energia pertencem à Sonangol; por outro lado, os restantes 38.3% das ações da GALP não detidas por acionistas qualificados, estão dispersos em bolsa. De notar também que a própria Amorim Energia tem já sede... na Holanda!, o que mostra a trapalhada mafiosa em que PS, PSD e CDS transformaram estas privatizações de bens públicos que custaram o sangue e o suor a gerações de portugueses e que, agora, qualquer oportunista de pacotilha arvorado em grande empresário através dum empréstimo fácil dum banco financiado pelo próprio Estado (muitas vezes sem pagar juros!) se apropria desses bens num golpe de mestre, e ainda se dá ao luxo de os vender ao estrangeiro.

PRIVATIZAÇÃO, PARA POSSE DE ESTADOS ESTRANGEIROS?

A acontecer este negócio como é falado à boca pequena, os CTT serão vendidos a uma empresa estrangeira estatal brasileira. E a extensa rede de balcões dos CTT será também detida por um grande banco estrangeiro, o que vai de certeza arrombar com o que resta da banca em mãos portuguesas. Entenda-se: Portugal já tem  um balcão em cada esquina, provavelmente mais do dobro do que o seu mercado bancário permite rentabilizar.

Nota atual (15/07/2016): O que acabou por se verificar foi a dispersão do capital dos CTT em bolsa, e o banco postal foi também criado, como um subsidiário dos CTT. Os maiores accionistas são Carlos Manuel de Mello Champalimaud (7,2% - Lisboa), Standard Life Investments (6,6,% - sede: Edimburgo), Allianz Global Investors GmBh (5% - grupo alemão, sede: Luxemburgo)BNP Paribas Investment (5% - Sede: Paris), Artemis Investment (4,99% - Sede: Londres). 

Se se concretizasse a venda a uma empresa estatal doutro país, seria pelo menos a segunda vez que uma empresa pública importante portuguesa era pseudo-privatizada, mas passando na prática para um Estado estrangeiro.

Já se passara com a GALP, vendida a privados que, embora comprometidos a não o fazer, logo alienaram sem pudor 1/3 do capital da empresa à estatal italiana ENI provocando a paralisia da GALP, porque essa ENI mesmo sem maioria ficou com direito de veto. Foram precisos anos de desgastantes negociações para que a estatal italiana finalmente aceitasse perder o poder de veto através dum complexo cruzamento de interesses em que a GALP teve que ceder uma fatia à estatal angolana Sonangol.

Nota: ENI, cujo ex-CEO passou em 2016) o CEO do Grupo Rotschild, Londres, com foco na área do petróleo - mostrando como este tipo de gente da alta finança está toda ligada.

É a evolução provável também nos CTT, com a agravante de que, saindo do controle do nosso Estado, deixará de ser Serviço Público e centenas de localidades e bairros ficarão sem correios  colocando graves problemas a milhares de pessoas debilitadas.
Isso, para além do golpe dado na dignidade dum País cuja auto-estima já está no fundo.

Que triste sorte e má fortuna !



3 comentários:

  1. Concordo na generalidade com a sua opinião, daí que sugira que seja exigido ao actual governo a reversão à tutela do Estado de todas as empresas que foram privatizadas.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Sim, idealmente deveria. Na TAP - embora duma forma que está pouco clara sobre o papel do Estado, conseguiram pelo menos reverter em parte (melhor que a solução do governo anterior, que era a entrega pura e simples).
    Agora, uma coisa é o IDEAL, outra o POSSÍVEL.
    Eu também gostava de ir visitar a Lua, mas se não tiver meios não posso. Capisce?
    Isto não é para desculpar o atual Governo, sobre o qual acho imperioso manter toda a vigilância.
    Agora, o que não se pode é ser tremendista, e querer tudo de repente quando antes não se tinha nada, e não via muito boa gente tão preocupada.

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